quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Woody Allen






   Duas citações. Uma poderá ser para o fecho do ano que agora acaba, e a outra apontada ao início daquele que, em princípio, irá começar. A ordem é, quanto ao rigor, indiferente  e quanto ao significado, aleatória:

     - "Leio por legítima defesa"

       - “I don't know the question, but sex is definitely the answer.”  

   Enfim, a terceira (ou será a primeira?) porque me ajuda a levantar todos os dias e ir assobiando a caminho da escola.

   “In my next life I want to live my life backwards. You start out dead and get that out of the way. Then you wake up in an old people's home feeling better every day. You get kicked out for being too healthy, go collect your pension, and then when you start work, you get a gold watch and a party on your first day. You work for 40 years until you're young enough to enjoy your retirement. You party, drink alcohol, and are generally promiscuous, then you are ready for high school. You then go to primary school, you become a kid, you play. You have no responsibilities, you become a baby until you are born. And then you spend your last 9 months floating in luxurious spa-like conditions with central heating and room service on tap, larger quarters every day and then Voila! You finish off as an orgasm!” 



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Europa : uma das piores secas de sempre





"Car celui qui doit venir viendra. Sinon l’amour n’est qu’un verre d’eau vite avalé."*
Andreï Makine , in  "La femme qui attendait"


* - «Porque aquele que deverá vir, virá. Senão o amor não passa de um copo de água rapidamente engolido»

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Noutras circunstâncias, um título redundante




Igor Posner "Second thoughts", St. Petersburg, Russia


São Petersburgo, Petrogrado, Leningrado, São Petersburgo.
Ou só "Petersburgo"ou, mais informalmente, "Peter".
Continuarão brancas as suas noites ou, pardas como a neve suja, já empapadas pelas criações escorregadias  de Puschkin, Gogol e Dostoyevsky  em espaços esconsos, fumegantes samovares e tapetes a forrarem paredes forradas a papel? As mesmas que hão-de sobreviver às revoluções que hão-de vir, voltar e sobrevoar  holocaustos e marés de destruição em gigantescos fogos abafando vozes, gritos e choros. Como deixar de reparar quando mais tarde  os prados nos sussurrarem no baptismo purificador fogos, como água e fogo se complementam no mais doméstico e primaveril baptismo, com um propósito (mesmo se misterioso para nós e que talvez por isso o reinventamos sem parar)?


Pragmatismo...





          Pragmatismo assim: a frio. Quem foi que pensou primeiro e disse depois que «com coisas sérias não se brinca?». Alma arrepiante com quem evitaria estar a sós em sítio esconso, perante quem certamente aceleraria o passo numa rua deserta e húmida de Praga, Amadora ou qualquer cidade que são enganações de noite, povoadas de medos e mentiras, de passos apressados e frases sussurradas ou, pior, gritadas. Revoltas breves, como breves as raivas, húmidas e fumegantes. Dentro em pouco não restará vestígio, como se tudo não tivesse passado de breve e espasmódica alucinação.

       «Alice, leva-me daqui»... Se as sombras fugazes soubessem letras e até essa imensa geografia de oceanos, montanhas e desertos salvadores não lhes estivesssem definitiva e irremediavelmente negados. Nessa outra história,  ficada por contar, os cegos a quem falta a voz, certamente mereceriam (à custa de mortes, sacrifícios e abnegadas redenções em alternantes filas de hipermercado bem como de kafkianos  passeios em  - não adianta agora estar a fazer tardios aggiornamentos ainda que apenas estéticos e tardios -  corredores de catedrais, que lá por serem de consumo não é por isso que lhes há-de faltarfaltará magestade nem transcendência ) encontrar a chave que tudo abre  e a todos salva. 
       Literariamente, como agora é norma e ninguém parece reparar, as recentes exumações dum psicologismo totalitário, os escreventes recusam a separação entre pobreza da miséria 



sábado, 8 de agosto de 2015

Gracias, Señor Keaton





   Há dias em que me sinto exactamente assim. E Keatonescamente deixo o riso por conta alheia. Não acontecendo no mundo, sei (porque o sinto) que o mundo acontecerá sem se incomodar com vontades ou falta delas. Olimpicamente continuará a sua marcha em passo militar e determinado.

   Agradecido, consolo-me com a certeza de por aqui já não andar muito mais tempo. O tipo de tempo que os relógios não registam, não medem nem sequer, suspeito, se lembram.



Sábado Chateado



Embroidered Zoetrope from Elliot Schultz on Vimeo.


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

domingo, 2 de agosto de 2015

Atestação





     Depois de uma crise hipertensiva e temendo um derrame que o impossibilitaria de escrever – Vinicius de Moraes redigiu um testamento, na madrugada de 5 de Setembro de 1969 em laudas do Jornal do Brasil para a mulher, Maria Christina Gurjão, no qual fez uma lista de bens, credores, fontes pagadoras, caloteiros e contas bancárias e deu instruções de como tudo seu deveria sr distribuído e – mais importante que tudo – suplica para não ser enterrado e sim embalsamado ou jogado no mar. Ele morreria onze anos depois, a 9 de julho de 1980.





“Meu Testamento"
    Para Maria Christina Gurjão
    Christininha

Se me sobrevier algum acidente durante a noite e, por acaso, eu morrer dormindo, tudo o que está dentro desta casa é seu, os dólares inclusive, bem como o automóvel, que lhe deixo. É esta a minha vontade, e se alguém se interpuser, maldito seja, pois não o considero nem irmão nem filho.
O resto é de meus filhos e de minhas irmãs Lygia e Laeticia, que se entenderão para que qualquer partilha seja feita com total espírito de justiça.
O problema dos direitos autorais deve ser estudado com o Marconi, por um advogado da confiança de meus filhos e minhas irmãs, reunidos. Lembro que o meu contrato com o Marconi termina em 1971 ou 1972 (é preciso procurar nos meus arquivos, nas pastas de música, porque está lá). Terminado este período, Lygia poderá tomar conta do assunto. É preciso pedir contas direto às minhas principais fontes pagadoras, que estão, até o término do meu contrato, sob o controle do Marconi. Elas são: A) SACEM, de Paris e o Leeds Music Corporation, de Nova York. O Tom sabe de tudo. Há também um tal Marbot, de Paris, que recolhe sobre as músicas do “Orfeu Negro”!. Está nos arquivos.
Denunciem o contrato do Marconi quando expirar o próximo período, senão se renova automaticamente.
Tenho dinheiro nos seguintes bancos: 1) Nacional de Minas Gerais (Agência Lido e Ipanema); 2) Crédito Real de Minas Gerais ali na Agência do Leblon; 3) Bank of London & South América, de Paris (Letícia está a par de tudo e pode escrever para lá, depois do assunto dos herdeiros ficar resolvido); 4) Chemical Bank (não me lembro agora o nome todo) – Letícia também está a par de tudo; 5) Um banco em Los Angeles, cuja conta ficou a cargo de Ray Gilbert – que é um larápio, o Tomzinho sabe o meio de mandar o Ray recolher o dinheiro – é mixaria; 6) o próprio Ray Gilbert, que é fonte pagadora através de sua editora (que roubou ao Tom e ao Aloísio); 8) O Serginho Mendes, que tem algumas músicas minhas gravadas – o Marconi sabe. Ele e Lygia em conjunto podem resolver o assunto com o advogado.
É preciso que seja feito um levantamento completo do meu repertório, e o assunto seja tratado com meus parceiros, no sentido de serem protegidos os direitos de meus filhos (há um que vai nascer em março, com você), depois de minha morte. Vários de meus parceiros têm editoras próprias, usufruindo, assim, direitos extraordinários (porque são editores) sôbre composições de autoria deles comigo. É preciso estudar com um advogado, e com os próprios parceiros, que são meus amigos e – penso eu – não vão criar dificuldades que meus herdeiros entrem de posse do que lhes é de direito depois da minha morte e da deles, em posição de igualdade com os herdeiros de meus parceiros.
O governo de Minas Gerais me deve 22 milhões e pouco de cruzeiros velhos. O Murilo Rubião está cuidando do assunto, e Lyginha pode receber, com procuração minha e Helena do Otto pode intervir junto ao pai (o Israel Pinheiro) para apressar o assunto. Esse dinheiro deve ser aplicado num investimento seguro, de maneira a que se multiplique e possa render juros que gostaria fossem assim distribuídos: 1) Susana e Tuca; 2) Pedrinho e Verinha e o filho que vai nascer (meu netinho); 3) Georgiana; Luciana, Christina e meu novo herdeiro, que deve nascer em março.
 Outra fonte pagadora minha é a Editora Sabiá – falem com o Braga e com Fernando; e o Aguilar – falem com o Antonio Hencur.
  
Em Buenos Aires tenho “Para uma menina com uma flor” publicado por uma editora “de la Flor” ou qualquer coisa assim – procurem nas minhas pastas de arquivo. Em Portugal tenho: 1) o disco com a Amália; 2) o disco de poesias; 3) a regravação do meu disco de poesias feito pelo Irineu; 4) o livro de poesias chamado “O Poeta apresenta o Poeta”. Você,. Christininha, pode escrever ao Antonio sobre isso – parte desse dinheiro (US$200,00) são dele. O resto ele pode mandar para você.
Na Itália há os direitos autorais sobre o meu disco que vai sair, produzido pelo Bardotti. O Chico pode escrever para êle.
Seria interessante alguém percorrer, com procuração da Lygia, algum dia, todas as sociedades arrecadadoras do mundo para verificar minhas prestações de contas.
 O meu fonomecânico é pago pela sociedade em Paris filiada à SACEM. Esqueci o novo nome. O Marconi não tem mais a ver nem com meu fonomecânico nem com o direito pago pela SACEM de Paris e pela SBACEM, SBAT e etc. – a coligação aqui. Sempre me foi pago diretamente em Paris. Acho que o Marconi fez alguma falcatrua com eles, pois o dito é (ou era) o representante aqui. Ele só cobra os 10% sobre o recolhimento das fábricas e das músicas que ele negociou com o Chiantia e o Sergio Mendes – e isso até a data do término do nosso contrato (acho que é 1972) quando ~este deve ser denunciado, senão ele fica mamando nessa vaca leiteira até o fim da vida, e o Mauricio Marconi depois.
A tradução do Orfeu Negro, Christininha, você sabe onde está. Gostaria que você falasse com o Tom e mandasse aquela carta minha junto com a tradução para o Albert da Silva. Você fica por mim autorizada a negociar, junto com o Tom, tudo isso. Gostaria que os meus herdeiros diretos (os filhos) caso o “musical” pegasse e desse muito dinheiro, que pusessem você na participação dos lucros, junto com eles, em partes iguais – no sentido de defender o futuro de nosso novo filho, que você está gerando. Acho que Susana, Pedrinho, Georgiana e Luciana entenderão isso muito bem. Esta é a minha vontade. 
Meus papéis, gostaria que fossem entregues ao Rubem e Fernando, para ver o que se pode aproveitar. Todos os originais antigos devem ser preservados para meus herdeiros. Poemas antigos não publicados e inacabados, sobretudo os da primeira fase, devem ser queimados. Há uma pasta de poemas inacabados atuais, aqui em casa, que eu ia mexer para fazer o novo livro “O Dever e o Haver” onde talvez haja alguma coisa a aproveitar. O Braga saberá dizer. Há bons poemas do “Roteiro Lírico e Sentimental… do Rio de Janeiro” numa pasta especial.
O primo do Scliar que publicou a edição “fac-simile” do “Orfeu da Conceição”, em São Paulo, ainda não me pagou. Falem com o Scliar.
O Acosta, antigo sócio do Rubem e do Fernando também ainda não prestou contas do que lhe ficou da edição de “Para uma Menina com uma Flor”. Mandem brasa.
A Susana e Pedrinho recomendo que, de acordo com Georgiana e Luciana tomem conta dos interesses de Christina e nosso filho que vai nascer. Se entrar muito tutu de tudo o que eu fiz, gostaria que Christina tivesse uma pensão mensal de pelo menos NCr$1.000 por mês.
Nelita tem meus quadros de Ivan Marquetti (todos menos um, que ela sabe qual é) e um Volpi, 1 desenho da Maria Helena Vieira da Silva, 1 do Di Cavalcante (é de Ovalle) que quero de volta. Ela me prometeu que daria. Se ela não quiser dar, podem agir judicialmente (mas somente com relação aos especificados aqui! – faço questão de dizer que todo o resto pertence a ela, foi dado por mim e quero que fique em seu poder).
 No fim deste setembro o Jornal do Brasil me deverá dois meses de colaborações. Até agora foi um mês. Fairplay me deve um artigo sobre a Florinda Bulcão (NCr$500,00).
Meus dois netinhos serão protegidos, no tocante ao que deixo, pelos pais – é claro. Meu novo filho com você, Christininha querida, entra no rol de meus herdeiros. Se Lyginha, por implicância, não quiser registrá-lo no meu nome (pois só ela tem procuração minha) a declaração fica feita aqui: a criança é filho (ou filha) meu, e deverá ser registrado com o meu sobrenome e paternidade, e gozar de todos os direitos de que gozam meus herdeiros diretos.
Protejam minhas duas irmãs, sempre, em caso de necessidade. Letícia tem cuidado de muito, mas, caso minhas coisas produzam muito dinheiro, futuramente, quero que não lhe falte nada. Peço que, no mesmo caso, abram uma conta em nome de meu irmão Helius, de modo a que ele possa adquirir, um dia, um apartamento – nem que seja pingando um pouco de cada um por mês.
Escrevo isto hoje esperando, é claro, que não aconteça nada, mas tive uma crise hipertensiva, e, se vier outra, sempre pode dar um derrame e eu perder as faculdades de falar ou raciocinar, no sentido do que está exposto aqui. Se eu ficar inválido a ponto de não poder me mover e pensar, matem-me por favor! Eu faria o mesmo por vocês, palavra de pai, irmão e marido e avô. E até de sogro. Uma injeçãozinha maneira não faz mal a ninguém numa hora dessas. Nem cego. Tenho horror a ficar cego, mesmo podendo escrever o “Paraíso perdido”, como fez Milton. Mas eu não sou Milton nem nada.
E esta é a minha última vontade que espero seja, para vocês, sagrada. Não me enterrem. Se houver alguma coisa “do outro lado” – no que até agora não consigo acreditar – eu amaldiçoarei vocês todos se não fizerem esta última vontade minha. Peguem meu corpo, joguem-no ao mar, lá na Avenida Niemeyer, com dois pesos nos pés. Adoraria ser comida de peixe, como o foi Hart Crane. Ou queimem-me aí num mato qualquer, com gasolina. Se não tiverem coragem de fazer isso, contratem um marginal que o tenha, mediante bom dinheiro. 
MAS NÃO ME ENTERREM, PELO AMOR QUE VOCÊS TÊM POR MIM. Em último caso – mas esta não é a minha vontade – mandem proceder a um embalsamamento e só me enterrem depois de 48 horas de embalsamado. Peçam isso ao Negrão como um último favor.
Gostaria de ser velado, nesse caso, pelos estudantes, e que meu coração lhes fosse dado. E de ser enterrado (depois do embalsamamento e das 48 horas) ao som das escolas de samba e dos choros de Pixinguinha. Mas – insisto – prefiro ser jogado ao mar ou cremado. Talvez o Abreu Sodré autorize minha cremação em São Paulo. Depois vocês trariam minhas cinzas para cá de volta. Gostaria que elas ficassem com Lygia. 
E que houvesse alegria e não tristeza. Eu fiz o que pude.
Assino isto em perfeita consciência, nesta madrugada de 5 de setembro de 1969. Peço às autoridades para colaborarem com meus últimos pedidos.Eu te amo!Vinicius de Moraes(Assina)

Christininha
Eu amo você e morro de pena, caso eu morrer, de não ver o novo Vinicius de Moraes nascer. Mas ainda preferiria Rodrigo em lembrança do amigo querido que foi antes de mim.

Ciao!

Vinicius”

quarta-feira, 29 de julho de 2015

De costas para o deserto





quarta-feira, 22 de julho de 2015

Paulo Leminski




Amar você é
coisa de minutos…

Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui

Laerte (Não é o tacão que atrapalha a revolução)







   O Laerte entrou na minha vida pelas calóricas páginas da «Chiclete com Banana», ainda oitentas,  mas, com toda a certeza, já não até ao fatídico 1995 (ano das exéquias brasileiras). Já não sei: por cá desapareceu mais cedo... este Atlântico afoga que se farta e portugal continua um impenitente praticante do Coitus Interruptus).

   Depois disso pouco, pouquíssimo, histórias de quinhentos trocados, desaparecidos, ausentes de todo. O interesse manteve-se no universo intranquilo, inteligente das suas «tiras» e, felizmente, nada perturbado, pelo que agora se tornou visível e inafundável (caprichoso Atlântico). Continuando no circunstancial, não posso deixar de me divertir ao cumprimentar um improvável Laerte, chegado por via de uma pesquisa sobre a sua empenhadíssima participação (tão a sério que às obras se juntou a doutrina: « personagem João Ferrador para a publicação do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Mais tarde viria a fundar a Oboré, agência especializada em produzir material de comunicação para os sindicatos. A editora publicou seu livro Ilustração sindical (1986), com mil ilustrações, quadrinhos e caricaturas liberados para utilização por sindicatos e outras entidades») no universo do sindicalismo nos tempos da ditadura e do dirigente sindical metalúrgico Lula da Silva (aqui nomeado mais pela defesa das desempoeiradas e bem dispostas ferramentas de Laertes e tutti quanti, do que pelo facto de, mais tarde, se vir a tornar o improvável Presidente da República do Brasil.


   Sendo por natureza avesso aos infantilizantes dó-ré-mis taquicárdicos do «Música no Coração», às lágrimas envergonhadas e adolescentes no «ET» e a involuntárias peles de galinha entregues pelo «Carteiro de Pablo Neruda» e projectadas no «Cinema Paraíso» (e falo de filmes e não de actores, se bem que uma «coisa» se não frígida, certamente causadora de muito impotente sem direito a indemenização nem a respeito público, chamada Julie Andrews, um boneco de borracha cujo lugar seria numa sex shop, dessas fantásticas urbes da actual China capital-socialista que fotograficamente sei existirem, um (ainda que enorme) Philippe Noiret não tenha hipótese...), não sou de pedra (a não ser, quem sabe, no rim...)

   Por isto e pelo mais que timidamente me custa a confessar: «Maldita sejas, bendita Madame Laerte».





P.S. - Prezado, ausente e previsível Sr. Arménio: vá lá, dê uma espreitadela       http://www.agenciasindical.com.br/mapa.php  , vai ver que não dói nada e roubar «assim», já foi defendido e prticado pelo Camarada Pablo Ruiz...

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Mistérios



 

Ou «enigmas que não apetece decifrar». Não fazendo ideia do que se trata  e sentindo que está bem assim e muito conforme às latitudes por onde me tenho aventurado, assim deixo o que me surgiu, limitando-me com rigor ao que  autoralmente devo...  um (suspeito que entretanto falecido) estúdio catalão (Studio Aparte, Barcelona

sexta-feira, 3 de julho de 2015

You always can vote.





sábado, 27 de junho de 2015

Um Motel esquecido e, nas areias poeirentas,


Aqui você pode esperar. Pode descansar ou até mesmo morrer. 

Temos cadeiras maravilhosas, uma cama tão especial 
quanto a vista, água corrente, fria e quente. 
Se sentir frio ao olhar as nuvens ausentes do deserto,
insira uma moeda e sonhe com a mais mais incrível mulher 
que sabe nunca iria encontrar na sua vidinha,  pequena e sem sentido. 

Esperamos que a aproveite a estadia no motel, 
Por favor, deixe o Santo Livro onde o encontrou, 
mas sinta-se livre para fazer uso das suas palavras. 
...Esperemos que encontre o seu caminho.

Gostaríamos de lembrá-lo que se  decidir 
segui-lo sem o peso duma arma 
pode deixar a sua, na recepção do hotel. 
Não se fazem perguntas.


...perdido, sonhado ou sumido?



You can wait. You can rest or even die. 

  
We have wonderful chairs, a special bed and if you feel cold
when when look at the clouds above the desert, 
then insert a coin and dream of the most incredible
woman you would never find in your little and meaningless life. 

We hope you enjoy your stay at this
motel, Please leave the Holly Book were you found it, 
but,please, feel free to use his words. Hope you find
your way. 
We remind you that if you deeecide to go your way 
without the weight of your gun, please, leave it at
the front desk. No questions made.

terça-feira, 23 de junho de 2015

A modos de desculpas



    Com os cuidados ao mano mais novo, mais os cuidados à gata resgatada (ou regateada) ao «já vais embora», tem faltado tempo e cuidados a esta sombra de blog. E assim continuará por uns tempos, calculo.

   À laia de paliativos cuidados à má consciência que não me larga, deixo uma brevíssima homenagem a um escritor que nunca deixou de me emocionar literariamente (talvez com excepção do já esquecido "O Livro Grande de Tebas, Navio e Mariana" e mesmo esse, por razões minhas, que o leitor também tem direito a voto e a veto).






A Porrada

— • —

Mário de Carvalho


     — Olhe, para ser franca, podia usar o espelho do quarto de vestir e deixar-me mais espaço, está bem? Mas que é que você traz posto? Vai jantar assim?
     Gonçalo murmurava qualquer coisa, cantarolando, sem lhe dar qualquer atenção. Estava a experimentar um blusão azul-marinho. No bolso de dentro, do lado esquerdo, um objecto tumefacto fazia descair ligeiramente o ombro.
     — Ouviu?
     Suspirou cavo, antes de responder:
     — Há que séculos ando a explicar que deves tratar-me por tu. É assim cá em casa, entre marido e mulher.
     — Mas, Gonçalo, meu querido, não dá jeito nenhum.
     — Então amocha. A minha família é mais antiga que a tua. Não somos “parvenus” do Pombal, como vocês. Vimos dos Visigodos.
     — Ach, welche Anmassend!
     — Parece mesmo parva. A exibir-se. Mostro o meu anel?
     Mas, enfim, Gonçalo lá foi pondo um blaser pelos ombros para o jantar. Carregou-lhe no vinho. Mafalda bem olhou rigidamente para o empregado, dardejando proibições. Mas o hirto Salema não podia contrariar o patrão quando ele lhe estendia o copo ou piparotava o vidro, de unha incomodada.
     — Ó Salema, saia lá por um bocadinho.
     — Sai nada!
     — Só um instante. Tenho de dizer uma coisa ao senhor.
     Enfado, enfado, mas quem é que tinha posto aquilo na parede? Era uma praia ou lá o que era?
     — Não é do quadro que eu lhe quero falar, Gonçalo. Sei lá quem pôs? A sua mãe, talvez. Estou muito preocupada é consigo.
     — Salema!
     — Não, espere. Estive a pensar… porque é que você não compra um cavalo e faz um bocado de tourada como toda a gente? Ou vai para o grupo de forcados?
     — Mas tu queres pôr-me a levar cornadas, aos trinta e cinco anos?
     — Sempre era outra dignidade…
     — Digno era fazer voluntariado como as outras e levar embrulhos aos necessitados. Pensas que eu não sei como ocupas o teu tempo?
     — Gonçalo, não lhe admito!
     — E esse gaiato do ténis, ou lá o que é, o seu amiguinho, baixe os olhos quando eu passar ou ainda leva uma berlaitada que lhe desatarraxo o gorgomilo.
     — Como é que você pode pensar…
     — “Tu”! É “tu” que se diz cá na família… Desde sempre! E limpa os olhos ao guardanapo que esse rímel é descafeinado. Pronto, o tête-à-tête já deu o que tinha a dar. Salema!
     O resto do jantar decorreu em silêncio. Ligeiro rumor de vidros e roçago de metal em travessas.
     Já Gonçalo tinha o blusão vestido quando Mafalda o interceptou no corredor de cima.
     — Gonçalo, veja lá, ao menos deixe que o Salema o leve de carro.
     — Qual Salema nem meio Salema.
     — Mas fico tão preocupada.
     — Ó querida, reza. Não carregaste o oratório da bisavó cá para casa? Aquela porcaria de pau-preto que até assusta a mobília? Põe-te a rezar, pode ser que o Céu se alegre…
     Antes das escadas ainda voltou para trás. Ela pasmada.
     — E nada de telefonemas, nem nervoseiras. Dá-me o teu telemóvel.
     — Ai isso é que não dou.
     — Bom, não quero telefonemas, hem? Hoje é a primeira Quinta-Feira do mês. Para mim, já sabes, noite sagrada.
     Relance para o relógio.
     Daí a nada, ao portão, parava um Laguna, pardo, da cor da noite e dos 
gatos, meio gatos, meio escondido pelas cedros.
     — Que é da merda do Porsche?
     Gonçalo instalava-se no lugar do morto.
     — Da outra vez riscaram-mo todo. Este é o carro da minha mulher, onde a Miss leva os putos de manhã. Se o riscarem, que se lixe.
     — Já viu?
     Gonçalo tirou do bolso do blusão um objecto escuro, maleável, que parecia uma beringela alongada com um laço na ponta:
     — Não mata, mas elimina.
     — A esposa — respondeu o outro — escondeu-me a soqueira. Venho de mãos a abanar.
     — Há sempre cadeiras à mão.
     — O pior são as navalhas. As criaturas atiram ao nível da cintura e a coisa mal se vê.
     — Costas com costas, pá. Tomar sempre a iniciativa.
     Pausa. A monotonia de sombras de árvores a deslizar. Disse o do volante:
     — O Inglês telefonou. Quer três por cento.
     — Mande-o lamber sabão. Amanhã a gente fala. E acalque-me nesse prego, homem.
     Primeiro os néons num acelerar de vermelhos, depois as portadas cheias de nervuras plásticas, os acrílicos, e os calmeirões da segurança.
     — O aparelho não acusa nada, pois não? Arreda para lá a mãozinha.
     Umas galdérias dançavam na pista, uns gajos mortiços em volta, tudo muito possidónio e enjoativo.
     — É cedo — disse o amigo.
     — A minha garrafa! — Pediu Gonçalo ao balcão. Instintivamente, virou a garrafa de Blue Label antes de lhe sacar a rolha. O nível estava na marca. Não dava pretexto. Ficaram os dois ali, a olhar, num bocejo.
     Lá ao longe um dos matulões da segurança, de cabelo rapado e botas de tropa, cruzava os braços sobre os peitorais inchados, numa impassibilidade bojuda. Apareceu outro por uma porta que dizia “Exit”.
     — Estão aí os viscondes — rosnou ele, para o lado — Olhómetro!
     — Puta de vida — disse o segurança dos peitorais saídos.
     Às quatro da manhã, Gonçalo gatinhava pelas escadas, mas a carpete desprendia-se e quanto mais ele gatinhava mais descia. Em vez de se zangar ria, ria desmedidamente, entre o sentado e o estendido, picotando o ar de casquinadas finas que imbricavam umas nas outras.
     — Gonçalo, credo, você vai sujar a cama toda de sangue.
     Mafalda tentou segurá-lo por um braço, mas só conseguiu rasgar-lhe mais a camisa. Vinha sem blusão, todo desfraldado. Trazia um pé descalço, a peúga pendente.
     — Uma ambulância, o caraças. Uma ambulância o caraças. — Era ele num garganteio de coro alentejano.
     Quando Salema apareceu, de roupão, levaram-no em braços para a casa de banho. Em cima do banco, o amontoado de roupas empastadas deixava livores encarnados por todo o lado. A água do chuveiro cachoava pelo corpo agachado no antiderrapante, dissolvia emplastros de sangue, varria feridas, espiralava no ralo, em revoadas escurecidas.
     Gonçalo continuava a rir em casquinada. Só interrompia o riso de vez em quando, para um rosnido fugaz, tributo à dor. Mafalda quis saber:
     —Você não terá alguma coisa partida? Um braço, ou assim?
     — As minhas ricas quintas-feiras. As quintas-feiras da porrada. Quem mas tira, tira-me tudo.
     E ria e cantarolava. Também gemia, de vez em quando. A voz saía-lhe empastelada do álcool e dos lábios pisados.


(Este texto foi escrito de acordo com a antiga ortografia)


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terça-feira, 16 de junho de 2015

Ideias negras


     Devemos considerar o preto como uma cor, a ausência de cor ou a suspensão da visão provocada pela privação de luz?

     (Na) ciência, (na) arte e (na)psicologia. Uma temática cuja história tem muito que se diga, embora nem sempre se veja...


Robert Fludd’s black square representing the nothingness that was prior to the universe, from hisUtriusque Cosmi (1617) 


                                                                  Kazimir Malevich’s Black Square (1915)


     The black page in Lawrence Sterne’s The Life and Opinions of Tristam Shandy, Gentleman, which first appeared in 1759 


                                          Light flowing forth from the blackness, from Fludd’s Utriusque Cosmi (1617)


sexta-feira, 12 de junho de 2015

Certo e Errado, tão triste sorriso



... que perplexo me interrogo, com que ligeireza ortopédica se colam assim sentimententos, ou o que num breve nada, sensíveis cospinhamos nesse arrepio...

fotografia de Brassai (livro "Paris", 1960)


... inexplicavelmente retirando ou apondo dermes. Olho-te... comprometido confirmo que dormes e eu sonho.




02 I Want to Vanish


Andy Sheppard Quartet - "Surrounded By Sea" (2015)


domingo, 7 de junho de 2015

Domingo, provavelmente

 












Edouard Manet - Dead Matador

Mesmo que à distância tudo pareça reduzido a decibeis, boas vontades, (e p'ra cuspir de uma vez só
duas das mais abomináveis palavras que esta língua tem - de grafar, de dizer e de pensar) purezas  e inocências, tempos houve em que a todos  parecia possível e natural ACREDITAR.






   Se a hiperactividade, o bom (e fidelíssimo) doutor, o violino e a cocaína produzissem o habitual, (em semelhantes circunstâncias) vendaval em  Baker Street, 221 B, na bipolar Londres *, sede de Império a sério, muito dada a convivências classe e lama, arrastando Mrs Hudson na deliciosa quebra de rotina vitoriana, a que se rende perante uns débeis protestos (de bom tom, embora não cheguem para embaciarem o brilho daquele olhar bem comportado).
   Eis-me zonzado (para não dizer mais forte) porque desta salada pelintra, claro que não convidado para o lanche da alarvidade e  futebóis, ou no que seja que se pontapeia nestes dias que correm, resultou uma espécie de cadáver esquisito ( e não o são todos, já não habitados pelo sr do 4º, ou daquela senhora que dava o caso de ser muito minha, tia.
   Se estranho o resultado (o nosso senhor lapin, e este  Macgiver de trazer por casa e que lendo a biografia autorizada de Sir Winston Churchill, percebendo-a mal, não a percebeu de todo. Como se não bastasse decidiu encarnar. Entre banhos de imersão, excessos de ordem vária, cheira-me que o ombro de Mrs. Hudson ainda há-de ser de enorme valia... É o que dá nascermos nascer num país chamado Entroncamento.
   Ficamos sem saber, (por ora... que método científico e lógica dedutiva tudo resolvem, excepto, dizem as línguas verrinosas, camas e altares) qual dos meus du-pounds é afinal, mais chazeiro e nostálgico de grandeza como deve ser grandeza que se veja.
   Espreguiçando-me meridionalmente, resta-me ir preparando o post em cuja temática tropecei (inutilidades e disparates deviam estar proibidos de sair da coelheira):

   «Quanto à questão da língua, esta é uma forma particular de linguagem, um "sistema de signos vocais, que podem ser transcritos graficamente, comum a um povo, a uma nação, a uma cultura e que constitui o seu instrumento de comunicação", segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (A. A. V. V. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. Academia das Ciências de Lisboa e Ed. Verbo, 2001). Bom, perguntam-me agora, e o que é um signo?
   O signo está ligado ao referente, que é o objecto real (ou uma realidade abstracta) a que o signo se refere, e é o nome que se dá ao conjunto do significante, uma sequência de sons e forma gráfica, e do significado, uma ideia ou conceito. Complicado? Vamos ver um exemplo: o signo "árvore" é constituido pela palavra escrita "árvore" e pelo conceito de árvore (uma planta com um tronco e ramos grossos castanhos coberta por um número incontável de folhas verdes), sendo que qualquer pessoa poderá apontar uma árvore (objecto físico e real) como referente. Se conhecer o seu significado! Senão não terá qualquer significado e não representará nada. Será como ler "wgtafga"...


Como vêm promete, fica o tira teimas, embora considerando os personagens em questão, talvez seja mais um tira tusas. Tudo por um bom naco de prosa conventual e tristeza a condizer (ainda me hão-de esclarecer qual a unidade de medida,  mas enfim...)

"Poetry" 
  • 1971 Ouch!
  • 1973 London Lickpenny
  • 1987 The Diversions of Purley and Other Poems

, "Fiction" 
  • 1982 The Great Fire of London
  • 1983 The Last Testament of Oscar Wilde
  • 1985 Hawksmoor
  • 1987 Chatterton
  • 1989 First Light
  • 1992 English Music
  • 1993 The House of Doctor Dee
  • 1994 Dan Leno and the Limehouse Golem (also published as The Trial of Elizabeth Cree)
  • 1996 Milton in America
  • 1999 The Plato Papers
  • 2000 The Mystery of Charles Dickens
  • 2003 The Clerkenwell Tales
  • 2004 The Lambs of London
  • 2006 The Fall of Troy
  • 2008 The Casebook of Victor Frankenstein
  • 2009 The Canterbury Tales – A Retelling
  • 2010 The Death of King Arthur: The Immortal Legend - A Retelling
  • 2013 Three Brothers

,  "Non Fiction" 
  • 1976 Notes for a New Culture: An Essay on Modernism
  • 1978 Country Life
  • 1979 Dressing Up: Transvestism and Drag, the History of an Obsession
  • 1980 Ezra Pound and His World
  • 1984 T. S. Eliot
  • 1987 Dickens' London: An Imaginative Vision
  • 1989 Ezra Pound and his World (1989)
  • 1990 Dickens
  • 1991 Introduction to Dickens
  • 1995 Blake
  • 1998 The Life of Thomas More
  • 2000 London: The Biography
  • 2001 The Collection: Journalism, Reviews, Essays, Short Stories, Lectures
  • 2002 Dickens: Public Life and Private Passion
  • 2002 Albion: The Origins of the English Imagination
  • 2003 The Beginning
  • 2003 Illustrated London
  • 2004 Escape From Earth
  • 2004 Ancient Egypt
  • 2004 Chaucer
  • 2004 Shakespeare: A Biography
  • 2005 Ancient Greece
  • 2005 Ancient Rome
  • 2005 Turner
  • 2007 Thames: Sacred River
  • 2008 Coffee with Dickens (with Paul Schlicke)
  • 2008 Newton
  • 2008 Poe: A Life Cut Short
  • 2009 Venice: Pure City
  • 2010 The English Ghost
  • 2011 London Under
  • 2011 The History of England, v.1 Foundation
  • 2012 Wilkie Collins
  • 2012 The History of England, v.2 Tudors
  • 2014 The History of England, v.3 Civil War
  • 2015 Alfred Hitchcock

(, deixando de fora a "Television" e as (caramba que «tudo o que é demais é moléstia...) "Honours and awards"), não choraminguem que já vão muito bem servidosQ!