quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Angus & Julia Stone









I lay myself upon the floor
We're not all dying, babe
Well, maybe I don't need this after all
It was a place for me
And all the books upon your shelf
Tell stories of who you are
But there's more to the picture son
He says you'll play it on your broken guitar
He says you play it on your broken guitar

Don't take my word for it
Don't take my word for it
Don't take my word for it
I do
I do
I do

I wake up in the morning so I can watch you dress for work
But there's more to the picture here
Than what we see or what we've heard
What we've seen or what we learn

Don't take my word for it
Don't take my word for it
Don't take my word for it
I do
I do
I do

Don't take my word for it
Don't take my word for it
Don't take my word for it
I do
I do
I do

domingo, 28 de dezembro de 2014

Sair a protestar. Ou, pelo menos, recordar.


   França, 1933. Após 2 anos em que a Soc. Citroën obtém um lucro de 186 milhões, a  administração da empresa decide uma diminuição salarial dos operários na ordem dos 18-20 %. Começa uma greve (que, aliás, alastrará. Da Renault até às empregadas de Mlle Channel ). Prévert escreve para o Grupo Outubro este "Citroën», aqui ouvido na sua própria voz.




Citroën
À la porte des maisons closes,
C’est une petite lueur qui luit…
Quelque chose de faiblard, de discret,
Une petite lanterne, un quinquet.
Mais sur Paris endormi, une grande lueur s’étale :
Une grande lueur grimpe sur la tour,
Une lumière toute crue.
C’est la lanterne du bordel capitaliste,
Avec le nom du tôlier qui brille dans la nuit.
Citroën ! Citroën !
C’est le nom d’un petit homme,
Un petit homme avec des chiffres dans la tête,
Un petit homme avec un drôle de regard derrière son lorgnon,
Un petit homme qui ne connaît qu’une seule chanson,
Toujours la même.
Bénéfices nets…
Une chanson avec des chiffres qui tournent en rond,
300 voitures, 600 voitures par jour.
Trottinettes, caravanes, expéditions, auto-chenilles, camions…
Bénéfices nets…
Millions, millions, millions, millions,
Citroën, Citroën,
Même en rêve, on entend son nom.
500, 600, 700 voitures
800 autos camions, 800 tanks par jour,
200 corbillards par jour,
200 corbillards,
Et que ça roule
Il sourit, il continue sa chanson,
Il n’entend pas la voix des hommes qui fabriquent,
Il n’entend pas la voix des ouvriers,
Il s’en fout des ouvriers.
Un ouvrier c’est comme un vieux pneu,
Quand y’en a un qui crève,
On l’entend même pas crever.
Citroën n’écoute pas, Citroën n’entend pas.
Il est dur de la feuille pour ce qui est des ouvriers.
Pourtant au casino, il entend bien la voix du croupier.
Un million Monsieur Citroën, un million.
S’il gagne c’est tant mieux, c’est gagné.
Mais s’il perd c’est pas lui qui perd,
C’est ses ouvriers.
C’est toujours ceux qui fabriquent
Qui en fin de compte sont fabriqués.
Et le voilà qui se promène à Deauville,
Le voilà à Cannes qui sort du Casino
Le voilà à Nice qui fait le beau
Sur la promenade des Anglais avec un petit veston clair,
Beau temps aujourd’hui ! Le voilà qui se promène qui prend l’air,
A Paris aussi il prend l’air,
Il prend l’air des ouvriers, il leur prend l’air, le temps, la vie
Et quand il y en a un qui crache ses poumons dans l’atelier,
Ses poumons abîmés par le sable et les acides,
Il lui refuse une bouteille de lait.
Qu’est-ce que ça peut  lui foutre, une bouteille de lait ?
Il n’est pas laitier…Il est Citroën.
Il a son nom sur la tour, il a des colonels sous ses ordres.
Des colonels gratte-papier, garde-chiourme, espions.
Des journalistes mangent dans sa main.
Le préfet de police rampe sur son paillasson.
Citron … Citron …Bénéfices nets… Millions… Millions…
Oh  si le chiffre d’affaires vient à baisser,
Pour que malgré tout, les bénéfices ne diminuent pas,
Il suffit d’augmenter la cadence et de baisser les salaires
Baisser les salaires
Mais ceux qu’on a trop longtemps tondus en caniches,
Ceux-là gardent encore une mâchoire de loup

Pour faire la grève…Pour mordre, pour se défendre, pour attaquer,
La grève…
Vive la grève !
Jacques Prévert

sábado, 27 de dezembro de 2014

ANU(L)IDADES





   Esteve de tudo... Tenha estado quase tudo. Não acredito que algum dia, um ou todos ou mesmo o mesmo, venhamos a unanimizar sobre a forma de avaliar as experiências. E ainda assim dou por mim impaciente por entrar num ano novo. Talvez seja é pressa de sair deste, e daí a pequena reflexão inicial. Todavia numa espécie de prudência tripa&sangue, alheada de espelhos e literaturas, arredo-me do costumeiro "Ano novo, vida nova" por um (tendo em conta a in e evocada prudência) seminal (de sémen mesmo, ou esporradal, se só assim entenderem) "Homem novo em novo ano".
   Rai's partam a vida... esta, outra que calhasse, talvez todas. Resta-nos sorrir, abraçá-la e intolerarmos incansavelmente, não com tudo, mas com todos os que aos "raios" apenas amesquinham. Por daqui sair tão sujo, há-de ser a minha passagem d'ano debaixo de água quente e numa abundância de excessos: de sabão, de tesão. De olhos bem fechados e mãos tacteantes' enroscado  nos braços e colado à pele morna e húmida da confiança. Impoluto, pois claro! Ou amnésico, o que, neste caso, vai dar ao mesmo.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Bom Natal, Paco (Navidad, navidad...)



As Complexidades do Coração Humano...

 
... ou serão as inconstâncias?


Bien sûr!


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Factos e Opiniões




   Variam consoante as pessoas e, até, conforme as circunstâncias: todos gostamos de ter razão. E mais quando o tempo vem provar que tínhamos ou tivemos razão "antes do tempo". Por ser fenómeno tão universal e, inevitavelmente, vítima da pouca memória dos "outros" não insisto, divago nem peroro sobre o fenómeno.
   Com este disco nas mãos, a sua música a percorrer-me, leio um trecho crítico que fala do que não falei: «(...)Il est entièrement composé à l'aide de synthétiseurs et d'une boîte à rythmes. ( pour ceux qui seraient allergiques aux synthés façon eighties, sachez qu'il ne s'agit nullement de ça ici: mélodiques et peu envahissants, ils s'effacent devant la belle voix grave du maitre )». Ou seja: (...) « É (o disco) inteiramente composto com a ajuda de sintetizadores e duma caixa de ritmos. (Para aqueles que são alérgicos aos sintetizadores à "maneira" dos anos oitenta, saibam que não se trata de nada disso aqui: melódicos e pouco invasores (discretos), apagam-se (ou passam para segundo plano) perante a maravilhosa e grave voz do mestre)».
   Nada a acrescentar. Basta-me ser-me dada razão, por alguém que me entende ou, sem me ouvir, entende perfeitamente o que já me cansei de dizer.

Prendas de Natal


































   Infelizmente esgotadíssima. Convenceu-me mais a prosa publicitária do que a mera ilustração. Por isso Veneza devia emigrar rumo ao norte (talvez Estocolmo). Desvarios meus.
   O modelo D344 intrigou-me. Outro sinal de que a publicidade deveria, incontestavelmente ser considerada arte (ou Arte), facto que ainda hoje é miseravelmente contestado. Valham-nos certos publicitários clarividentes, embora humilérrimos, que se intitulam "poetas amadores".
   Voltando ao artigo em questão: "cartuchos de pólvora seca" a 45 cent. a meia centena (e ainda por cima não enviáveis por via postal) faz-me pensar: e porque não verdadeiros, ou seja carregados, de forma a acabar com o cliente e com esta prosa miserável?
   Feliz Natal.

World Press Photo (1955/ 2011)


Lucian Perkins (1995)


   A bus on the road leading to Grozny during fighting between Chechen independence fighters and Russian troops. The civil war which erupted when President Yeltsin sent troops to the rebellious province in December 1994 was still dragging on months later. When the Chechen fighters fled Grozny, the capital, where the war had claimed a horrendous human and material toll, Russian troops pursued them into the countryside to the south and east.

   As fotos vencedoras da "World Press Photo", desde o início da competição, 1955, até 2011:

http://www.buzzfeed.com/mjs538/every-world-press-photo-winner-from-1955-2011?sub=1407709_118982&s=mobile#118982


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Balada Irlandesa



IF I WAS A BLACKBIRD

If i was a blackbird I'd whistle and sing
and I'd follow the ship that my true love sails in,
and on the top rigging I'd there built my nest,
and I'd pillow my head on his lilly whith breast.

He promised me to take me to Bonnybrook fair
to buy me red ribbons to bind up my hair.
And when he'd return from the ocean so wide
he'd take me and make me his own loving bride.

His parents they slight me and will not agree
that I and my sailor boy married should be.
But when he comes home I will greet him with joy
and I'll take to my bosom my dear sailor boy.


SE EU FOSSE UM MELRO

Se eu fosse um melro assobiaria e cantaria,
seguindo o navio em que o meu amor navega;
construiria o meu ninho no alto dos cordames
e no seu peito branco como um lírio repousaria a minha.                                                                                              [cabeça.

Ele prometeu-me levar-me à feira de Bonnybrook
para comprar fitas vermelhas e prendê-las nos meus.                                                                                             [cabelos.
E quando regressasse do vasto oceano
haveria de me abraçar e fazer de mim a sua terna esposa.

Os seus pais desprezam-me e não estarão de acordo
que eu e o meu marinheiro nos casemos.
Mas quando ele regressar a casa vou acolhê-lo com alegria
e apertar contra o meu peito o meu marinheiro amado.

[trad. de António Sabler. Fraquinha, como se poderá ler e (não) sentir]

Pratt e Praça


Santiago Caruso - "Gabinete de Curiosidades"

   Os avançantes cinquentas de Pratt. No sublimatório  Maltese apenas (e muito remotamente) se reconhecerá algo de semelhante em "As Helvéticas". Digo eu, provavelmente rasando, ou arriscando, o disparate.


   "(...)E perdi-me numa infinidade de intrigas *, enquanto a velhice - eu preferiria a palavra "velhotice" - se abeirava suavemente. Sentia uma certa preguiça do corpo, conservando uma imaginação muito jovem, um cérebro muito perspicaz. Então, fui pouco a pouco deixando-me envolver por um mundo de recordações, um mundo onírico, um mundo feérico. E esse mundo, que os intelectuais empenhados dessa época me censuraram como sendo irreal, tornou-se para mim cada vez mais concreto: eis em que consiste o meu materialismo histórico. Durante esse período, progressivamente, fui-me separando do que se chama a realidade e a minha vida tornou-se a da imaginação, da fantasia, do fantástico."

   * - parece-me "liberdade" de tradução.

Hugo Pratt, in "O Desejo de Ser Inútil - memórias e reflexões", pág. 161 (Relógio d'Água,  2005)


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Já suspeitava: resta o mistério da associação verbal (tal&qual)

 
Alice Ferrow

   CRISE

   O substantivo  crise vem «latim crĭsis, is, "momento de decisão, de mudança súbita, crise (usado especialmente acepção medicina)", do grego krísis,eōs, "ação ou faculdade de distinguir, decisão", por extensão, "momento decisivo, difícil", derivação do verbo grego krínō, "separar, decidir, julgar";  já no latim ocorre a acepção "momento decisivo na doença"; a palavra ganha curso em economia a partir do séc. XIX; francês crise (1429), inglês crisis (1543), alemão Krise (séc. XVI), italiano crisi séc. XVI-XVII, espanhol crisis (1705), português crise (séc. XVIII)».

   A palavra crise é, em história da medicina, «segundo antigas concepções, o 7.º, 14.º, 21.º ou 28.º dia que, na evolução de uma doença, constituía o momento decisivo, para a cura ou para a morte»; em medicina, trata-se de «o momento que define a evolução de uma doença para a cura ou para a morte» ou de «dor paroxística, com distúrbio funcional em um órgão». Em economia, é «fase de transição entre um surto de prosperidade e outro de depressão, ou vice-versa».

(Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss)



CATARSE

s.f. 1 na religião, medicina e filosofia da Antiguidade grega,
libertação, expulsão ou purgação daquilo que é estranho à essência ou à natureza de um ser e que, por esta razão, o corrompe
1.2 Rubrica: religião.
conjunto de cerimônias de purificação a que eram submetidos os candidatos à iniciação religiosa, esp. nos mistérios de Elêusis
1.4.1 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: estética, teatro.
purificação do espírito do espectador através da purgação de suas paixões, esp. dos sentimentos de terror ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico
3 Rubrica: psicanálise.
operação de trazer à consciência estados afetivos e lembranças recalcadas no inconsciente, liberando o paciente de sintomas e neuroses associadas a este bloqueio
4 Rubrica: psicologia.
liberação de emoções ou tensões reprimidas, comparável a uma ab-reação
5 Rubrica: psicologia.
efeito liberador produzido pela encenação de certas ações esp. as que fazem apelo ao medo e à raiva, utilizado pelas terapias que se baseiam no método catártico


Fonte: Dicionário Houaiss


   Sobreviveremos, mas diferentes. Omito a opinião, o pressentimento, tudo o que sendo tão pessoal se torna de tal forma subjectivo que evito racionalizar, verbalizar e submeter a qualquer tipo de análise (pessoal, quanto mais a pares...). Não consigo evitar classificar os tempos que correm como "de resistência", fugindo (assustado) ao "sobrevivência". Por razões e vivências muito minhas, que por recato ou pudor, calo. Mas, para perceber o que evoco, leia-se qualquer descrição de, por exemplo, um naufrágio. Não faltam narrativas bastante reais (presenciais de preferência) que, para o efeito, são bastante mais elucidativas do que a estupenda e fantástica (literalmente) "colecção de relações e notícias de naufragios, e successos infelizes, acontecidos aos navegadores portuguezes", reunidos por Bernardo Gomes de Brito. Por isso aqui deixo o óleo de Mª H. V. da Silva.



Maria Helena Vieira da Silva História Trágico-Marítima ou Naufrage, 1944

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Qualquer coisa do género





1. Queres sobreviver ao frio?
2. Queres vencer a fome?
3. Tens vontade de comer?
4. Queres beber?
Despacha-te e adere às Brigadas de Choque !

Cartaz Agitprop de Maïakovski

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Primavera inalcansável


   Em dias assim a viagem não é geográfica, mas uma espécie de passeio, feliz ou infelizmente (decidam vocês) com bilhete de ida e volta. Eu, tão contente que ando com a vida e a companhia, ainda assim consigo arranjar desejos de pecar numa espécie de impaciência irritada (o Sá de Miranda é que a sabia, toda e bem). Feitios ferrosos e desleixos enferrujados. Aliás, informa-me o farmacêutico que estamos em plena falta generalizada de vitamina D. Graças a Deus, e por uma vez, nada de metafísicas nem sentimentalidades amorosas.
   Assim se constroem as vidas e as normalidades: uma gota por dia ou a frascalhada toda e duma vez pela goela abaixo. Conhecendo-me já sei como há-de ser.